O Instituto Bicho D’água tentou resgatar, em novembro, um peixe-boi avistado na foz do rio Arari, próximo à Comunidade Quilombola de Santana do Arari, na Baía de Marajó. No entanto, antes que o resgate pudesse ser realizado, o animal foi caçado a abatido.
– Fomos acionados na quinta-feira, 21 de novembro. A Estefany Ferreira, da comunidade de Santana do Arari havia buscado o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (IDEFLOR-Bio) e a secretaria de Meio Ambiente do município de Ponta de Pedras para informar sobre um peixe boi aparentemente ferido e que havia sido avistado na região– conta Renata Emin, bióloga e presidente do Instituto Bicho D’água.
–A partir daí, começamos a mobilizar nossa equipe para estarmos o mais rápido o possível na comunidade. Partimos no primeiro barco, na manhã seguinte. Enquanto isso, a Estefany mobilizou a família dela, com embarcações para realizar buscas ao longo do rio – recorda Renata.
Segundo a bióloga, no primeiro avistamento, já na sexta-feira, a equipe identificou que o peixe-boi estava flutuando, um comportamento atípico para a espécie, e parecia ter uma cicatriz recente.
–Poderia ser decorrente de algum trauma ou problema gastrointestinal. Seria preciso resgata-lo para avaliar melhor e poder intervir. Começamos a mobilizar nossos parceiros para operacionalizar o resgate do animal de mais de 2 metros de comprimento e 400 quilos, e, ao mesmo tempo informar a sociedade do que estava acontecendo, para engajá-los no resgate. Seria impossível fazer o resgate sem o apoio da comunidade – explica Renata.

No sábado, algumas pessoas haviam avistado o animal. Enquanto a equipe do Bicho D’água continuava a monitorar o rio com o intuito de melhor avaliar o peixe-boi.
–Mas no domingo, no segundo dia de monitoramento, recebemos a triste notícia que corriam relatos de que o peixe-boi poderia ter sido caçado e abatido – conta Renata.
A bióloga observa que a caça de animais silvestres é uma prática recorrente no Brasil, ainda que seja considerada crime no país.
–O peixe-boi-da-Amazônia é um mamífero aquático vulnerável a extinção, de acordo com a última Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil, publicada em 2018. Este fato reforça a importância de ações constantes de sensibilização ambiental, que busquem evidenciar a importância de protegermos a biodiversidade na Amazônia. E ainda, do quanto o engajamento das comunidades é fundamental para construirmos juntos uma relação mais harmônica entre o ser humano e o meio ambiente– reforça.
Segundo Renata, a iniciativa de Estéfany, em se preocupar com o peixe-boi machucado, foi o que chamou a atenção e mobilizou toda uma rede de instituições parceiras no atendimento ao encalhe.
–Sua família e toda a comunidade de Santana do Arari, foram incansáveis nas buscas pelo peixe-boi. Infelizmente, neste caso não tivemos o desfecho esperado, mas acreditamos que a mobilização que foi feita já funcionou como um primeiro passo sensibilização da comunidade– avalia.
O Bicho D’água, pretende retornar a comunidade de Santana do Arari, e das outras no entorno do rio Arari, para realizar outras atividades de sensibilização para a conservação dos peixes-boi da Amazônia.