Oceanóloga formada na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande do Sul, Andrea Dalben fala sobre mercado de trabalho e as oportunidades na área de pesquisa sísmica
Oceanóloga formada na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande do Sul, Andrea Dalben conta que a escolha da profissão aconteceu aos poucos, em diferentes momentos.

“No primeiro colegial, ainda em Ribeirão Preto, São Paulo, tive a chance de participar de uma viagem para a Escola do Mar, em Angra dos Reis. Lá, fiz um curso chamado O Curso da Vida, onde passei uma semana aprendendo sobre Ciências do Mar e Meio Ambiente. Foi a primeira vez que ouvi falar em Oceanografia”, lembra.
Quando chegou a hora do vestibular, como muita gente naquela época, Andrea foi buscar um guia de profissões. “Eu sabia que queria algo na área ambiental e, ao folhear o guia, encontrei novamente a Oceanografia. Decidi escrever para a FURG demonstrando interesse, e eles me enviaram um vídeo em fita VHS. No vídeo, mostravam embarques, mamíferos marinhos, instrumentação oceanográfica… tudo parecia desafiador e cheio de aventuras ao ar livre! “, conta.
Na época, apenas três universidades no Brasil ofereciam o curso: FURG (Rio Grande, RS), UERJ (Rio de Janeiro) e Itajaí, SC. A FURG era conhecida por ter a melhor faculdade do país em Oceanologia (como o curso é chamado por lá).
“Além disso, o fato de Rio Grande estar perto da última praia do Brasil, ser um lugar ermo e distante, me deixou ainda mais animada”, afirma.
“No fim das contas, acho que minha escolha foi impulsionada pelo desejo de explorar novos lugares e pela experiência incrível que tive na Escola do Mar”, define.
Seu primeiro trabalho com sísmica foi como MMO.
“Foi simplesmente incrível e realmente inspirador”, diz. “Em 2012, embarquei no navio ¿Pourquoi Pas?, do Instituto Francês de Pesquisa do Mar (IFREMER), para uma campanha que durou 75 dias. Era uma pesquisa científica focada na movimentação das placas tectônicas”, conta.
O ambiente a bordo, segundo Andrea, era fascinante. “Todos eram apaixonados pelo que faziam, e às quartas-feiras, sempre tinha uma apresentação. Todos, sem exceção, compartilhavam algo sobre seu trabalho: os pesquisadores falavam sobre seus estudos, nós explicávamos os impactos potenciais da pesquisa, os mecânicos apresentavam os desafios das máquinas, e a equipe sísmica mostrava os equipamentos em detalhes. Já às sextas-feiras, rolava uma festinha na proa”, lembra.
Durante esse tempo, Andrea aprendeu sísmica, aprendeu a falar francês e até acompanhou os mecânicos em algumas de suas tarefas.
“Fiz amigos para a vida e, até hoje, mantenho contato com muitos deles. Continuo embarcando com o IFREMER e, este ano mesmo, reencontrei alguns membros da equipe de 2012”, conta.
Em 2020, Andrea criou a Biosonar, que atualmente oferece cursos para diversas formações, em um espaço próprio na Praia do Moçambique, em Florianópolis, onde atende até quatro alunos MAP ou oito alunos MMO por vez.
Andrea observa que a pesquisa sísmica abre portas para diversas funções. Há cargos diretamente ligados à sísmica, como Observers, Gun Mechanics e Navegadores, e outros voltados para a operação do navio, como homens de área, rádio operador, cozinheiro, médico, observadores de biota (MMO/PSO), operadores MAP e Técnicos Ambientais (TA).
As posições para MMO, MAP e TA, por exemplo, podem ser exercidas por pessoas formadas em biologia, oceanografia e em áreas correlatas.
“Mais do que a formação, o perfil é essencial. Tem que ser flexível, gostar de desafios, saber lidar com conflitos sem se estressar, conviver bem no confinamento e, claro, gostar de mar “, destaca.
“Este é um ótimo mercado de trabalho. As oportunidades oscilam – tem épocas com bastante trabalho e outras mais paradas. Mas, depois que você entra, se trabalha bem e conquista a confiança das empresas, dificilmente fica sem embarque. A pesquisa sísmica acontece no mundo todo, e o setor é pequeno. Isso significa que, com boas conexões, você sempre fica sabendo onde tem vaga”, explica, acrescentando que, com experiência, é relativamente fácil conseguir trabalho fora do país.
“Para quem é da área ambiental, o caminho mais fácil é começar como MAP, MMO ou TA. Depois, dá para se aproximar do pessoal da sísmica, aprender sobre os cargos e, se surgir uma vaga, tentar a transição. Inglês ajuda muito, mas não é um fator limitante. O essencial é persistência e networking”, ensina.
“Com foco e determinação, dá certo”, conclui.